Factfulness — Dez Razões Pelas Quais Estamos Errados Sobre o Mundo
Autor: Hans Rosling (com Ola Rosling e Anna Rosling Rönnlund)
Gênero: Não-ficção, Ciências Sociais, Estatística
Publicação: 2018
Páginas: 352
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Autor: Hans Rosling (com Ola Rosling e Anna Rosling Rönnlund)
Gênero: Não-ficção, Ciências Sociais, Estatística
Publicação: 2018
Páginas: 352
🛒 Comprar LivroSabe quando você tem certeza absoluta de algo sobre o mundo e descobre que está completamente errado? Factfulness me fez passar por isso umas dez vezes — e foi uma das experiências de leitura mais desconfortáveis e libertadoras que já tive.
Hans Rosling, médico sueco que passou décadas trabalhando em saúde global e se tornou uma espécie de celebridade do TED Talks, escreveu este livro praticamente no leito de morte (ele faleceu em 2017, antes da publicação). E que presente final ele deixou: um manual para enxergar o mundo como ele realmente é, não como nossos instintos dramáticos nos fazem acreditar.
O livro começa com um teste de 13 perguntas sobre o estado do mundo. Questões tipo: "Quantas meninas no mundo terminam a escola primária?" ou "Qual a expectativa de vida global?". Rosling testou essas perguntas com milhares de pessoas — de estudantes a CEOs, de jornalistas a ganhadores do Nobel.
O resultado? A maioria das pessoas acerta menos que chimpanzés escolhendo respostas aleatoriamente. Eu mesmo fiz o teste antes de continuar lendo e... bem, foi humilhante. Não apenas eu estava errado — estava sistematicamente errado no sentido mais pessimista possível.
E aqui está o ponto devastador: não é ignorância. É um viés cognitivo profundo que nos faz enxergar o mundo pior do que ele realmente é.
Rosling identifica dez "instintos dramáticos" que distorcem nossa visão de mundo. Alguns que mais me marcaram:
O Instinto do Abismo: Adoramos dividir tudo em "nós versus eles", rico versus pobre, desenvolvido versus subdesenvolvido. Mas Rosling mostra que a maioria da humanidade vive no meio — não em extremos. Ele criou quatro níveis de renda para ilustrar isso, e quando você vê os dados, percebe que aquela divisão binária "primeiro mundo vs terceiro mundo" simplesmente não existe mais.
O Instinto da Negatividade: Notícias ruins chegam rápido, boas notícias se espalham devagar. Resultado? Achamos que tudo está piorando, quando na verdade a pobreza extrema caiu pela metade nos últimos 20 anos, a mortalidade infantil despencou, e mais gente tem acesso à educação do que nunca. Essas melhorias graduais não viram manchete, mas mudaram bilhões de vidas.
O Instinto da Linha Reta: Presumimos que tudo continua na mesma direção para sempre. População mundial vai explodir infinitamente? Não — já está desacelerando. Este me pegou forte porque eu tinha essa imagem apocalíptica de superpopulação, mas os dados mostram que estamos caminhando para uma estabilização.
Outros instintos incluem o do medo (superestimamos perigos dramáticos), o do tamanho (números fora de contexto nos enganam), e o da generalização (categorizamos tudo de forma simplista).
Tem uma história no livro que não consigo esquecer. Rosling conta sobre quando trabalhou como médico na África e viu uma mulher perder um bebê por asfixia durante o parto. Ele ficou indignado: "Por que não têm equipamento básico aqui?"
Mas então ele voltou para a Suécia e descobriu registros antigos mostrando que, décadas atrás, a taxa de mortalidade infantil sueca era comparável à da África atual. Não era uma questão de "eles" serem incompetentes — era uma questão de estágio de desenvolvimento. E a boa notícia? Esses países estão melhorando no mesmo ritmo (ou mais rápido) que a Europa melhorou no passado.
Esse olhar histórico mudou tudo para mim. Não é pessimismo nem otimismo cego — é facticidade. Ver os dados com clareza.
Este livro me irritou de um jeito bom. Irritou porque derrubou tanta coisa que eu "sabia" sobre o mundo. Irritou porque mostrou que meus instintos — que evoluíram para me manter vivo na savana — são péssimos para interpretar estatísticas globais.
Mas também me libertou. Porque se o mundo não está tão terrível quanto eu pensava, então há esperança real. Não aquela esperança ingênua de quem ignora problemas, mas a esperança fundamentada em progresso mensurável.
Rosling escreve com humor, humildade e uma dose generosa de provocação. Ele não quer que você seja otimista — quer que você seja realista baseado em fatos. E isso é muito mais poderoso.
O livro não nega que existem problemas graves no mundo. Rosling deixa claro: reconhecer o progresso não significa ignorar desigualdade, mudanças climáticas ou injustiças. Significa ter uma base factual para agir melhor, em vez de ficar paralisado pelo catastrofismo.
Se você consome notícias e sente aquele peso de "o mundo está acabando", leia este livro. Se você trabalha com educação, jornalismo, políticas públicas ou simplesmente quer entender o mundo de forma mais clara, leia este livro. Se você quer argumentos sólidos para conversas de jantar, leia este livro.
É uma vacina contra o desespero apocalíptico — e nos dias de hoje, isso é revolucionário.
"O mundo não pode ser compreendido sem números. Mas o mundo não pode ser compreendido apenas com números."
Hans Rosling conseguiu fazer algo raro: me fez questionar tudo que eu achava que sabia, e ainda assim me deixou mais esperançoso. É o tipo de livro que muda a lente pela qual você vê o noticiário — e a vida.